22/12/2014

A gótica Abadia de Northanger de Jane Austen

Eu, geralmente, devoro livros numa velocidade rápida demais. Um até três dias é o máximo para que eu leia um exemplar, não importando muito o tamanho. Conto isso não para me gabar, mas para dizer que com os livros de Jane Austen a minha relação é diferente de qualquer outro. Às vezes demoro semanas para ler o livro, simplesmente porque quero saborear cada sarcasmo, cada diálogo e cada descrição.
As histórias de Austen, na minha opinião, devem ser degustadas de forma vagarosa.
Digo isso, porque esse meu padrão continuou ao ler a Abadia de Northanger.
Esse livro ganha como a capa mais linda de 2014 para mim.
E em pouco tempo se tornou o meu livro favorito já escrito pela autora.
Anteriormente nomeado de Catherine, na verdade Susan, como o nome da protagonista, a Abadia de Northanger lida com a vida social de uma menina de dezessete anos, a srta Morland, que passa a alta temporada da sociedade inglesa em Bath. Lá ela conhece o galante Henry Tilney, um clérigo entre 24 e 25 anos que a convida para dançar e a cativa com sua conversa inteligente e respostas sagazes. Sem encontrá-lo por uma semana, Catherine se concentra na amizade que formou com Isabella Thorpe- que só me faz acreditar que se alguém te elogia muito, duvide!- e seu esnobe irmão John enquanto lida com as frivolidades de sua anfitriã, a senhora Allen.

Munida com seu vasto conhecimento de romances góticos, em especial a de Ann Radcliffe, Catherine depois de uma série de contratempos é convidada pelos Tilney's a passar um tempo em sua moradia e bem...o resto cabe a você, leitor, descobrir.

Sou fã de carteirinha de Jane Austen desde que li Razão e Sensibilidade e assisti a mini-série da BBC com Colin Firth como Mr. Darcy. Embora eu considere Colin e Laurence Oliver como os melhores intérpretes de Fiztwilliam admito que a versão de Orgulho e Preconceito com Olivier é tão horrível que machuca a vista. Mas, resalto também, que se a adaptação fosse fiel a história, Laurence convenceria como par de Bennet, já que tinha toda aquela pompa de Mr. Darcy para mim.
Posso dizer que depois de todas essas experiências me rendi sem qualquer luta aos encantos literários da senhorita Austen.

O que dizer sobre a Abadia de Northanger sem soar como uma puxa-saco? Eu me identifiquei muito com o lado sonhador de Catherine, uma doce menina que vivia no campo e quando colocada frente a sociedade muitas vezes não percebia as pessoas que queriam enganá-la. Cada vez que algo assim acontecia eu me via dizendo: "Não caia nessa, Cath!". Outro ponto forte da narrativa é como ela é contada por Jane Austen, tratando Catherine como uma verdadeira heroína de romance recheando o dia-a-dia da personagem com comentários pertinentes tanto à ela quanto ao leitor.

A diagramação do livro é fantástica e sua história também.

Eu admiro o modo como a autora consegue impor significância a histórias de vida que muitos de nós nem se daria ao trabalho de prestar atenção. Ela mistura a realidade da protagonista e seus desejos de ficção de forma complementar sempre fazendo com que continuemos virar a página para saber o desfecho de personagens que de tão bem retratados acabam se tornando velhos conhecidos, quer sejam amigos ou não.

Jane Austen começou a escrever o livro em 1798-99. Um dos seus primeiros, os direitos do livro então chamado de Susan, foi vendido para Crosby &Cro em 1803. Eles, depois de tanto tempo, decidiram não publicá-lo e quando o irmão de Jane, Henry resolveu comprá-lo de volta em 1816, o editor ficou feliz em devolvê-lo pelo mesmo preço que pagara anteriormente.
Com o manuscrito de volta a suas mãos, Jane então anonimamente uma grande escritora com mais de quatro livros de sucesso, começou a trabalhar nele cortando algumas pontas soltas. Foi aí que nossa heroína passou a se chamar de Catherine, além de outras mudanças na história. Publicado em 1818, pelo nome conhecido hoje escolhido por seu irmão, um ano após a morte de Austen, a autora já no prefácio pede desculpa por erros, já que os modos entre mulheres e homens mudou e muito desde que escrevera o romance. Para mim, não houve erro algum.

O único ponto ruim que posso apontar na narrativa é o fato de não haver muitos diálogos entre Catherine e Henry e embora a escritora descreva todos os detalhes eu gostaria de ver mais das falas impensadas pela flor da idade de Cath e a sensatez e humor ácido de Henry que o fazem tão charmoso ao meu ver.

A novela de Austen teve duas adaptações para filmes em 1987 e 2007. Ainda não assisti a nenhuma das duas, mas pretendo fazê-lo o mais rápido possível, embora eu já pressinta que terei uma predileção pela versão mais nova devido a minha super crush no ator JJ Feild e por considerar que ele deveria fazer muito mais sucesso do que já faz! (Esperem um post sobre isso!) 


Ao tratar de casamentos, classes sociais e as intricadas relações entre pessoas, Jane Austen retrata  um espelho de como age uma sociedade em qualquer época. Porque não importe quanto as coisas mudam, mas elas permanecem as mesmas em alguns pontos e sempre podemos contar com Jane para clarear nossa percepção sobre esse ponto nas amorosas conexões humanas.
E aí, o que você achou da Abadia de Northanger?




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