30/04/2014

John- por Cynthia Lennon.

Muitos se lembram somente da relação de John Lennon com Yoko Ono e se esquecem que ele viveu também um grande primeiro amor com Cynthia Powell.
Os dois se conheceram na Faculdade de Artes de Liverpool no segundo ano de Cynthia em que ela teve de escolher em que áreas ela queria se especializar no curso e acabou escolhendo a de caligrafia como uma delas. John, por ser considerado um mau aluno, entrou na mesma classe por falta de opção, já que não o aceitariam em outro lugar.
Destino ou não, aquele ano de 1958 foi o começo de um relacionamento conturbado e intrigante, para dizer o mínimo que duraria até 1968.

Cynthia e John em tempos mais alegres de "recém-casados" em 1964 durante a primeira ida dos Beatles para os EUA.



 Sempre fui uma grande fã dos Beatles e procuro ler o máximo sobre eles. Cynthia escreveu sobre o John duas vezes até agora com o Twist of Lennon de 1978 e John de 2005. O livro mais completo é o atual. Sendo assim, resolvi lê-lo e compartilhar minhas noções com vocês.
Cynthia era completamente apaixonada por Lennon. Não há nenhuma dúvida aqui. Quando os dois se conheceram ele era o 'garoto de classe média-alta sendo rebelde' e ela era a 'menina certinha de classe média.'. Embora na biografia dela, ela afirme que não ficou impressionada com a aparência de John quando o viu pela primeira vez, eu duvido. No livro ela dá a entender que ficou intrigada pela personalidade vibrante e até mesmo agressiva dele e isso a atraia desde o começo.

Só que é aqui que tenho que quebrar a noção que eles eram perfeitos juntos, afinal nenhum relacionamento é perfeito. Os dois, pela minha percepção, eram extremamente dependentes um do outro. Cynthia mudou a cor do cabelo dela para agradar John e até mudou o seu jeito de vestir, em algumas ocasiões, para satisfazer a noção de mulher ideal de Lennon- que era a Brigitte Bardot!

John por outro lado era extremamente ciumento. Cynthia conta no livro que se ele a visse falando com outro cara ele ficava louco e que ela tinha que constantemente assegurá-lo de que ela o amava e nunca o deixaria. Alguns desses traumas de abandono são até compreensíveis pela vida familiar que ele teve- ou que não teve- com Mimi, sua tia. Porém o fato aqui era que a possessão completa e total foi uma grande parte do relacionamento deles. 

De qualquer forma, John conseguia ser bem charmoso quando queria e o senso de humor dele e seu ideal de romance prendiam Cynthia. Aqui pauso para explanar: muitas vezes Cynthia é retratada como uma mulher qualquer que John se envolveu até que ele encontrasse o grande amor da vida dele que era a Yoko. Não, eu não concordo! Cynthia foi uma grande parte da vida do John, apoiando-o na origem dos The Beatles e era alguém que ele sempre podia contar. Ela também foi um grande amor na vida dele e não há como negar!

Talvez, no final essa compreensão em demasia tenha sido o problema. Cynthia foi muito compreensiva em tempos onde ela deveria ter sido dura com John e seu comportamento e defender a si mesma no processo. No entanto, esse sempre fora seu relacionamento com John, como era naquela época dos anos 1960: ela era a mulher que pacientemente esperava o marido, enquanto ele vivia e ganhava o dinheiro da família.

E com essa afirmação, por favor não pense que Cynthia não era talentosa ou que há algo errado de viver de tal modo. Ela, no entanto, era uma grande artista e foi uma mulher forte no tempo que passou com John Lennon. Os dois se complementavam de várias formas e se atracavam de muitas outras também. 

Contudo a relação não era nada saudável. Ela foi até longe ao fazer uma cirurgia plástica no nariz por insegurança e medo que ela não estivesse bonita o suficiente para John, que andava nos círculos das pessoas lindas e famosas. O fato dela adaptar a vida inteira dela, muitas vezes, em volta da dele mostrava o tipo de devoção de ambas as partes. Principalmente da dela. 

Desde o início John tinha dificuldades em se relacionar com seu filho Julian. Talvez até pela falta de uma figura paternal forte na vida dele.

Depois veio a separação, que ela conta detalhadamente no livro, e o envolvimento com a Yoko Ono. Acho incrível como ela e Julian( filho do Lennon) falam sobre ela. Como se ela fosse a única culpada pela a retirada do John da vida deles. Se Yoko foi uma grande influência nas decisões e na vida de John na época? É claro que foi, mas somente porque ele permitiu que ela fosse.

Julian Lennon no prefácio escreve amargamente sobre o seu pai e eu não o culpo. Ele era criança quando tudo aconteceu de repente e depois seu pai  morreu sem que ele conseguisse alcançar sequer uma boa relação com ele. Cynthia, no livro é mais reservada ao falar sobre seus sentimentos sobre Yoko, mas ela deixa claro que não gosta dela. Nem um pouco.

O livro é muito bem escrito, Cynthia nos deu uma ótima perspectiva sobre o relacionamento com o John, porém ainda acho que falta alguma coisa. Ela foi em algumas partes vagas e acho que ela poderia ter se concentrado em explanar mais sobre as ambiguidades da personalidade do John. Ela o ama até hoje e isso fica claríssimo nos livros. E para quem acha que o único amor da vida dele foi a Yoko precisa ler esse livro. Ele definitivamente era louco por Cynthia, desde que cantou Ain't She Sweet? para ela na sala de aula. As duas foram importantes na vida dele, cada uma em seu modo, claro. 

E como Cynthia mesmo disse, John tinha o padrão de fugir de qualquer confronto e quando algo em sua vida acabava ele fazia questão de fingir que nunca aconteceu. Isso explica muita coisa relacionada a como ele tratou amigos e família depois que a nova fase da vida dele com Yoko Ono começou. Ele queria apagar e começar de novo, mas na vida real isso não é possível. 

De qualquer forma, o livro é ótimo para descobrir novas histórias sobre os Beatles e o John e perceber como a relação com Cynthia era muito tocante. Conturbada, mas tocante. E conhecer mais sobre a vida de Cynthia e até das outras esposas dos The Beatles, principalmente a da Maureen-  que foi casada com o Ringo- que permaneceu amiga de Powell até sua morte em 1994. 

É exatamente como Powell afirmou, entretanto, se ela soubesse no que iria dar ela teria saído de perto dele. Mas depois de ler o livro eu tive a impressão que ela falou da boca para fora. O que ela queria mesmo era ter continuada amiga do John, porque casados ou não, eles entendiam um ao outro. E isso é algo extremamente raro de conseguir.

O livro John foi a tentativa de Cynthia para contar seu lado da história e devo dizer que ela definitivamente conseguiu fazer isso dessa vez. E com muita classe também. 



Informações do livro: 










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