09/05/2014

A Laranja Mecânica Horrorshow - Parte 1.

Por Bog, druguis, estão ou não preparados para govoretar sobre o livro e filme do cine-cínico mais horrorshow que seus glazis já viram?

Se você não entendeu quase nada do que disse acima é porque estou usando a linguagem Nadsat, usada por Alex e os seus druguis em Laranja Mecânica. Mas acalmem-se, que eu traduzo: "Por Deus, amigos, estão ou não preparados para conversar sobre o livro e o filme de cinema mais legal que seus olhos já viram?"
Horrorshow, não é mesmo? E se você estiver interessado em saber mais sobre o vocabulário Nadsat, aqui está o dicionário (mas aconselho a lê-lo só depois de terminar o livro, de verdade, pois só assim você terá a experiência de imersão completa que o autor, Anthony Burguess queria que os leitores tivessem).
Mas vamos por partes. Deixe-me contar a história em si para vocês, antes de tudo.

Laranja Mecânica conta a história em primeira pessoa de Alex, um garoto que cultua a ultra violência, mas acreditem, ele não é o único. Com os seus três amigos-Tosko, George e Pete, ele formou uma gangue- e lembrem-se de que a regra só permitia gangues de até seis- e ele saia pelas ruas procurando pelo bom e velho entra-sai (sexo na maioria das vezes forçado) e videar(observar) o króvi (sangue) dos outros escorrer.

Só que em uma de suas saídas nesse mundo alternativo onde as gangues juvenis tomaram conta das cidades e as pessoas tem medo de sair a noite, Alex acaba matando a sua vítima e seu destino é a prisão. Determinado a fazer o que conseguisse para sair, ele consegue se inserir em um projeto chamado de Técnica Ludovico (que garante restabelecer os criminosos ao bem em 15 dias.) Mas será mesmo que podemos retirar do ser humano e de qualquer um mesmo, seu poder de escolha como a técnica parece fazer?

Agora que já estamos todos, mais familiarizados com a narrativa, vamos falar tanto do livro quanto do filme. Começarei pelo filme neste post:


Filme: A Laranja Mecânica(1971)

O filme, lançado em 1971, foi dirigido, adaptado e produzido por Stanley Kubrick depois de seu molde de roteiro sobre a vida de Napoleão fracassar. Após isso, ele mergulhou de cabeça no filme, assim como faz em todos os seus projetos. Ele mesmo admitiu que nunca discutiu o livro com o autor, e somente teve a oportunidade de falar com ele uma vez por telefone, mas que não lamenta, já que o livro era tão brilhante que "qualquer coisa que ele tinha a dizer sobre a história estava escrito no livro."
O adaptação foi recebida com tanta controvérsia e polêmica que Stanley realmente proibiu a exibição do filme na Inglaterra, pois as críticas foram mais terríveis e desdenhosas lá, e no final só foi exibido na Inglaterra depois de sua morte em 1999.
Tanto Kubrick como Anthony ficaram desapontados com a falta da correta interpretação da história e o autor, em uma reportagem especial para o jornal The Tuscaloosa News em 1972 afirmou: 

"O que me machuca, e a Kubrick também, é a alegação feita por alguns telespectadores e leitores de Laranja Mecânica de que há uma indulgência gratuita de violência que transforma uma obra intencionalmente homilética em uma pornográfica.
Seria mais agradável se não tivesse nenhuma violência, mas a podridão das reclamações de Alex teriam perdido suas forças se não nos fossem permitido ver do que ele estava sendo regenerado. De minha parte, a representação de violência foi intencionada como um ato catártico e de caridade, já que minha própria mulher foi submetida a atos perversos e de violência irracional em uma Londres apagada em 1942, quando ela foi roubada e espancada por três soldados desertores do exército. Leitores do meu livro talvez se lembrem que o autor do qual a mulher é estrupada é o autor de uma obra chamada "Laranja Mecânica."
(Obs: no mínimo interessante, não?Parece aqui que ele admite que sua mulher foi vítima de estrupo e mostra grandes traços autobiográficos nessa obra. Mas deixemos essa discussão para outra hora.)



Mas não se preocupem, hoje em dia o filme é considerado unanimamente uma obra prima tanto de Kubrick e do cinema como um todo. E é, claro que isso não teria acontecido sem a escolha perfeita do ator para interpretar Alex, o Vosso Humilde Narrador. E o sortudo foi o talentosíssimo Malcolm McDowell, na época com 28 anos. Sobre ele, o diretor disse: " Eu tinha Malcolm em mente desde do terceiro ou quarto capítulo de minha primeira leitura do livro. Um não encontra atores dessa genialidade em todas as formas, tamanhos e idades."

Muito foi dito sobre a diferença de idade do Alex do livro( que vai dos quatorze até os 18 anos) e do ator que o interpretava que era significantemente mais velho. Honestamente, concordo com Kubrick, Malcolm era o único capaz de interpretar Alex. E ponto final.



Uma das controvérsias do filme que mais marcaram o público foi quando Alex canta a música Singing in the Rain( imortalizada por Gene Kelly) enquanto estupra uma mulher- e destaco que duas atrizes foram chamadas para fazer a cena já que a primeira desistiu pois achou tudo aquilo muito perturbador. Sobre isso, Malcolm afirma que era a única música que sabia inteira e que foi a pedido do diretor, já que ele queria apimentar a cena aparentemente morna no filme. Só que Gene não ficou nada feliz com Malcolm quando o encontrou outra vez. Sobre isso, McDowell conta:
Meu agente da Warner Bros me disse: "Há uma festa em um dos flats de Bervely Hills e eu acho que terá várias estrelas de cinema lá. Você quer ir?" E eu disse: "O quê? É por isso que estou aqui. Eu sou um garoto de Liverpool. Você está brincando?! Eu adoraria ir!". Então nós vamos e o cara vem e fala:" Você não acredita, mas Gene está aqui." E eu disse: "Gene?" e ele: "Gene Kelly". Então eu disse: "Nossa, eu adoraria conhecê-lo." Então nós vamos até ele que está de costas para mim e o cara lhe dá uma tapinha do ombro para chamar a atenção. Ele diz: "Gene, eu adoraria que você conhecesse Malcolm McDowell." Ele se vira, olha para mim de cima para baixo, olha bem nos meus olhos,vira de costas e vai embora.


 Outra curiosidade era que Mick Jagger( vocalista da banda de rock The Rolling Stones) queria interpretar Alex e que os Beatles- sim, isso mesmo!- estavam interessados em fazer toda a trilha sonora do filme por considerá-lo: "vanguardista em sua linguagem, estilo cinematográfico e trilha sonora." Sabemos também que Kubrick queria uso ilimitado da música da banda Pink Floyd chamada Atom Heart Mother, mas que eles não aceitaram. Mesmo assim, a menção da música, tanto no filme quanto no livro são imprescindíveis, já que Alex é um grande conhecedor e apreciador delas e principalmente da clássica- ênfase a Beethoven. 

Quem também se aventurou a fazer uma versão do livro em filme foi Andy Warhol em 1965 com uma produção chamada Vinyl. E acredite, é um desapontamento, mas talvez seja daí a ideia de Mick Jagger de atuar no filme de Kubrick já que uma de suas músicas foi utilizada no filme de Warhol e os dois eram amigos. Vai saber?


Acima: o de Kubrick e abaixo o de Warhol. Sem comparações, mas para os interessados como eu também fiquei aqui está o link de um trecho de Vinyl. 

Outras curiosidades são a de que Malcolm ficou temporariamente cego devido ao aparelho que utilizavam como tortura no filme, já que arranhava suas córneas. E que a maioria das cenas foram gravadas fora do estúdio e a única que precisou de um set foi a do Korova Milk Bar onde os druguis se reúnem para tomar leite-com. 

E mais uma para fechar esse post com chave de ouro. O título do filme e do livro, foi inspirado em uma frase que em seu original é "queer as a clockwork orange." e em tradução é: "louco como uma laranja mecânica." Muitos dizem que o autor inventou essa frase somente para justificar o título, mas ele mesmo conta que: "Em 1945, de volta do exército, eu escutei um Cockney de 80 anos de idade em um pub dizer que alguém era: "queer as a clockwork orange.". O 'queer' não queria dizer homossexual e sim louco. A frase me intrigou com sua fusão improvável demótica e surrealista."

Infelizmente, acabo por aqui a parte 1 sobre A Laranja Mecânica. Na próxima, falarei somente da obra escrita de Anthony Burguess e terminarei com a minha opinião sobre cada uma delas, com comparações e diferenças. 

E para finalizar mesmo- desculpem, mas poderia escrever e falar sobre essa obra por horas- apresento o trailer desse incrível filme que eu nunca me canso de assistir porque ele é tão bem executado e pensado. E perfeito em toda a sua maldade. Aproveitem:















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