12/05/2015

As vidas sem rumo dos greasers e dos socs

"Paul Newman e uma carona para casa." 
Essas são as duas coisas que passam pela cabeça de Ponyboy Curtis quando o livro 'Vidas sem rumo' começa e é também a imagem que permanece conosco pelo resto das páginas. O sentido de rebeldia e da incompreensão de garotos tão novos e já tão endurecidos pela vida que o destino cruelmente lhes fez enfrentar é o mote de cada um dos rapazes retratados no livro.

Vidas sem Rumos (The Outsiders)foi o primeiro livro publicado da então adolescente, Susan E. Hinton. Ela, com então 15 anos de idade, não estava satisfeita com o tipo de literatura juvenil que lia. De acordo com a escritora, a inspiração da história veio quando um de seus amigos apanhou de outro grupo porque ele era um greaser* de outra gangue. Esse é o começo do livro e da história de uma publicação tão influente na vida dos jovens adolescentes.

Nascida em 1948, seu envolvimento com o embate de classes sociais
deu origem a um clássico da "nova literatura".
Susan nasceu em uma pequena cidade dos Estados Unidos, Tulsa em Oklahoma, e foi durante seus anos letivos no colegial que percebeu que os colegas a sua volta viviam uma guerra velada. Os greasers (que têm esse nome pelo modo como arrumam o cabelo) contra os socs (pronuncia-se soqui-chis que vêm de socials- sociais). Embora a gangue do livro seja baseada em um grupo real, Susan garante que nenhum de seus amigos reais foram retratados na sua história, mesmo que eles achassem que sim. A sensação de universalidade; pertencer a algo maior do que si mesmo; é a verdadeira protagonista da história. 

O livro foi lançado em 24 de abril de 1967, graças a mãe de uma amiga que era editora de livros infantis e percebeu o potencial da sua história. Mesmo que os críticos, na época de lançamento, tenham taxado a publicação como sentimental demais, o retrato de uma realidade em que Susan estava inserida contribuiu para que o livro superasse suas falhas e se estabelecesse como leitura obrigatória em algumas escolas dos Estados Unidos. 

Sinopse

Ponyboy Curtis não é um garoto qualquer. Além de um nome original, que causa estranhamento nas pessoas ao seu redor, ele é criado por seus dois irmãos Darry e SodaPop. 
Com gel nos seus cabelos e um ar de durão que foi aperfeiçoado durante os anos, ele é, assim como seus amigos, um greaser. Como uma gangue, seus maiores inimigos são os socs, rapazes da classe alta que brigam com os invasores pobres.
Vítimas de famílias partidas e vidas miseráveis a única coisa que une os greasers é a camaradagem que sentem uns pelos outros.Mas quando um assassinato acontece, os dois grupos de gangues começaram a apreender que todos observam o pôr do sol do mesmo modo e que qualquer um têm a chance de permanecer dourado. 
Até não possuir mais. 




Os personagens do livro, a não ser aqueles próximos de Ponyboy, não são muito bem explorados no livro. O retrato é o que eu chamo de um superficial-profundo, aquele em que você acha que compreende o personagem enquanto, na verdade, o escritor está apenas lhe enganando. A partir do relato de Pony conseguimos conhecer muito bem SodaPop, Darry e seu melhor amigo Johnny, mas outros como Steve e Cherry ( a única menina a aparecer de uma forma mais que breve no livro) não passam de fantasmas secundários. 

Até Dally, o menino mais problemático da turma, é incapaz de fazer com que o leitor sinta algo além de empatia através na narração objetiva de Susan. Em outros casos, no entanto, a opção de estilo da escritora permite que entendamos a diferença de realidades entre as duas gangues. Susan já afirmou que além do embate físico, outras pequenas rixas como os greasers e os socs entrarem por lugares diferentes na escola, ocorriam todos os dias. A sua linguagem juvenil permite que o leitor se imerse nas desavenças ao mesmo tempo em que busca a compreensão das almas jovens.

Com 16 anos, a publicidade do livro foi feita pelos próprios leitores e Susan decidiu permanecer no anonimato durante um tempo, devido a decisão editorial de assinar o livro com somente suas iniciais para que leitores não ficassem desanimados ao ler uma história de gangues escrita por uma mulher. A honestidade com que ela tratou os problemas dos adolescentes, no entanto, a fez ser chamada de 'A Voz da Juventude' e essa pressão, posteriormente, lhe garantiu um bloqueio de escritor que durou mais de três anos.
Outros livros seus foram publicados, mas nenhum jamais teve o impacto de Vidas sem Rumo. Em uma entrevista para o jornal The Hour, a autora admitiu que " Eu recebo cartas de todos os lugares do mundo dizendo que eu mudei a vida deles. Quem sou eu para mudar a vida dos outros? Não sou eu. É o que está no livro".

O culto, no entanto, que o livro recebe até hoje foi a razão pela qual a história recebeu uma adaptação para as telas do cinema de ninguém mais, ninguém menos do que Francis Ford Coppola em 1983.

Estrelas em ascensão na época, os sete rapazes deixaram sua marca no cinema.
A história por trás desse filme mostra o poder que as palavras de Ponyboy provocaram em jovens de todo o mundo. Um dia, mais precisamente, em março de 1980 os alunos da escola Lone Star na Califórnia estavam discutindo sobre Vidas sem Rumo e quem eles gostariam que dirigisse um filme do livro se ele virasse um filme. Assim essa ideia se transformou em uma petição que a bibliotecária do colégio enviou a Francis Coppola. 

A carta original que foi mandada para Coppola.

Três anos depois, a versão cinematográfica de Vidas sem Rumo estreou com nomes como Patrick Swayze, Rob Lowe, Emílio Estevez e Tom Cruise nos papéis principais. O produtor aconselhou que Coppola lesse o livro e isso não poderia ser mais verdadeiro. O filme é uma cópia completamente fiel a história de Susan. Tão fiel que nenhum fã poderia reclamar.

Mas isso, no entanto, não quer dizer que a película de Vidas sem Rumo não possui suas falhas. A narrativa do filme é tão similar a do livro que comete suas mesmas falhas: a falta de aprofundamento. No livro, como a história é contada por um menino de 14 anos, esse fato não fica tão aparente, mas na tela alguns momentos pareciam tentativas baratas de conquistar o telespectador, como a "suposta" queda de Ponyboy pela líder de torcida Sherri "Cherry" Valance. Ele a acha uma "gata", mas nada além disso e não é apaixonado por ela como as sinopses do livro e do filme tentam afirmar. O livro trata da amizade.

Ademais, devo admitir que o momento mais bonito do filme e do livro é a analogia com o pôr do sol. Quando somos crianças, somos uma alvorada que com o tempo se autodestrói e o livro, além de lidar com as diferenças das classes sociais, mostra que todos nós, independentemente de quem somos, precisamos tentar nos manter dourados.

Para sempre, dourados.










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3 comentários:

  1. Bem melancolico esse post, mas acho que justifica o drama do assunto. Com certeza vou conferir o filme.

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    1. Que bom, Emilio que gostou! E confira sim o filme que é ótimo!

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