Scarlett- A continuação desastrosa de E o Vento Levou...

"Minha própria intenção quando eu escrevi o final foi deixar o desfecho para que o leitor decidisse o que aconteceria (sim, eu sei que isso é insatisfatório para eles)." afirmou Margaret Mitchell, a escritora de E o Vento Levou..., quando perguntada em uma carta de seu editor se Scarlett e Rhett terminaram juntos.
Claro, que como ela mesma previu o final não foi satisfatório. Fãs ficaram sedentos para saber sobre o que aconteceria com seus personagens favoritos. O que será que aconteceu com Ashley? Com Mammy?, todos se perguntavam.
Margaret Mitchell, no entanto, nunca teve a intenção de escrever uma continuação para o livro. E mesmo que tivesse mudado de ideia, sua morte em 1949 arruinou qualquer esperança dos leitores assíduos por uma continuação.
Ou pelo menos era o que se pensava. Depois de sua morte, seu legado e os direitos de E o Vento Levou... ficaram com seus filhos. E para que uma continuação acontecesse eles precisariam concordar com ela.
Vários escritores talentosos se aplicaram para o trabalho e a escolhida enfim foi Alexandra Ripley que lançou Scarlett em setembro de 1991.

Alexandra Ripley já tinha experiência em livros históricos e como Margaret, nasceu no Sul dos Estados Unidos.

Não me levem a mal. Alexandra é uma ótima escritora, ela soube pontuar e adicionar inúmeros detalhes e entretenimento a continuação, mas mesmo assim eu detestei.

Detestei porque ela completamente tirou a essência de Katie Scarlett O'Hara a transformando em uma mulher qualquer. Quem é fã do livro tanto quanto eu sabe que Scarlett não é uma mulher qualquer. Ela é astuta, gananciosa, corajosa e decidida. Na continuação, Ripley transforma Scarlett em uma mulher assustada, insegura e que tenta sempre agradar aos outros. É simplesmente irreal e infiel ao espírito de Scarlett.

                                        *ALERTA DE SPOILER*

 Obs: para aqueles que não sabem'spoiler' é quando uma parte significativa da trama é contada. Não diga que não avisei!

E quando Alexandra comete o erro de fazer com que Scarlett abra a mão de Tara sem ao menos alguma dor no coração. É completamente absurdo! Tara é a única coisa que Scarlett ama mais do que Rhett e ela nunca abriria mão dele e  que dirá  de sua amada Tara. E o final babaca- não há outra palavra aplicável aqui-  de que os dois (Scarlett e Rhett) pertencem um ao outro e por isso Scarlett é a casa de Rhett e vice versa. Desculpem-me, porém isso é de uma comicidade irônica.
Os dois pertencem um ao outro sim, entretanto Tara é a  solidez de Scarlett. E ela nunca deixaria algo por qual ela lutou tanto escorregar de suas mãos sem mais nem menos. Santo Deus! Parece que Alexandra Ripley teve preguiça de ler o livro de Mitchell.

                                                          *FIM DE SPOILER*

O livro como vocês puderam ver foi um desapontamento para mim. Antes de lê-lo procurei resenhas na internet para saber se valia a pena checar a continuação. Todos me diziam que era ótimo, então estava confiante. Foi difícil achar um exemplar do livro e quando finalmente comprei no sebo comecei a ler o mais rápido que pude. 

No começo ainda estava confiante, o livro parecia mais ou menos promissor, mas a partir das 100 páginas - lembre-se de que o exemplar tem 844 páginas- fiquei arrasada. Toda a minha expectativa com o livro e a esperança de que pudesse ficar melhor se acabou.

Contudo eu acredito em ler um livro até o fim, não importa quanto demore e terminei.

O livro se você olhar individualmente não é ruim. É uma ótima leitura, com paisagens incríveis, detalhes impressionantes e um fiel retrato da Irlanda. Porém se você vê-lo como uma sequência de E o vento Levou... se prepare para se desapontar.

Alexandra Ripley venceu vários concorrentes para fazer a continuação e deixou muito a desejar.

O livro foi recebido com muitas críticas boas e ruins em seu lançamento e mesmo com toda a polêmica vendeu mais de vinte milhões de exemplares no mundo todo. Com essa recepção, o livro conseguiu interessar produtores para uma mini série de quatro capítulos chamada E o Vento Levou 2.

A mini série teve como atores principais o conhecido Timothy Dalton, como Rhett Butler e Joanne Walley como Scarlett.

A produção tem lá seus méritos, mas para alguém que é fã - fanático mesmo- de E o Vento Levou... sabe que essa mini série não se compara com a épica produção do primeiro filme com a magnífica Vivien Leigh e o sedutor Clark Gable.

A química entre os dois era inegável e suas atuações impecáveis.
Vivien era a perfeita Scarlett e Clark era indiscutivelmente Rhett Butler.

No fim, a tarefa de Alexandra Ripley era perdida e sem sentido. A única pessoa que teria sido capaz de fazer uma continuação decente do livro era Margaret Mitchell, a própria autora. Não por que Ripley não fosse uma ótima escritora, mas sim porque Mitchell era a única que entendia aquele universo complicado e impregnante de Atlanta. Alexandra estava fadada ao fracasso desde o início. 

Scarlett é um livro para ser lido por aqueles que conseguem separar cada história e ver Scarlett como algo independente de E o Vento Levou...., porém aqueles que veem como uma continuação se sentirão tão ultrajados quanto eu.

E o Vento Levou... é um clássico e clássicos não devem ser mexidos e nem tocados. E muito menos receberem uma continuação que não seja do próprio criador.